‘‘Quando Fiz Uma Nave Espacial…’’
Era o dia da actividade escolar ‘‘Mostra e Conta’’ e eu não tinha nada para levar, mostra e contar… Além disso, estávamos fartos de coisas estúpidas como apitos ‘‘mágicos’’ ou de ver animais de estimações. Ou mesmo, de os mais dotados e vaidosos a gabarem-se dos seus troféus e medalhas de 1º lugar. Estávamos fartos disso tudo.
O que eu queria era uma coisa original. Original, não…super original, que ninguém tivesse visto ainda…ou mesmo que ainda não existisse. Algo que deixasse os meus colegas de boca aberta e um grande silêncio na sala.
Estava eu sentado no sofá, quando começou um filme. E apesar de gostar imenso de cinema, em vez de o ver, fiquei a pensar o que poderia levar…
A minha mãe, que já sabia de tudo, experimentou:
-Fazemos assim: Entreténs-te com a televisão ou qualquer outra coisa. Quando eu gritar «Já!», fazes a primeira coisa que te vier a cabeça ou em que estejas a pensar, boa?
-Hum…Está bem!
Então, fiquei entretido com a televisão. O filme era de ficção científica. Mostraram uma nave espacial cujo nome começava pelas iniciais do inventor, ‘‘SpaceJam’’ de Sebastian July. Era uma boa ideia, mas achei estranho um senhor com o apelido igual ao mês Julho…
Nesse momento, estando desprevenido, quase saltei do sofá:
-Já!!!
Olhei para a minha mãe e ela para mim:
-Uma nave espacial?!
-Uh…Tentamos outra vez – disse ela, nada confiante.
-Não, não. É isso mesmo! Uma Nave Espacial!
Como era sábado e tinha que mostrá-lo já na segunda-feira, pus rapidamente mãos à obra. Entrei na oficina do meu pai e apenas saí para arranjar peças, comer e dormir.
Os meus amigos, perguntavam por mim, e em vez de eu dizer o que estava a fazer, quis fazer surpresa, dizendo apenas «Esperem até segunda! Vão ficar surpreendidos!»
Quando dei por mim, já era segunda-feira. Oito horas da manhã.
-Só tenho meia hora! – Gritei, assustado de não acabar a tempo
Dei os últimos retoques. Coloquei-o num carrinho vermelho e fui-me arranjar e tomar o pequeno-almoço.
Na escola, fui o primeiro:
-Apresento-vos a primeira Nave Espacial feita por um adolescente. Aurora Boreal!
Ficaram todos surpreendidos e havia um silêncio enorme na sala, tal como eu queria.
-Não deve voar… – vinha do fundo da sala.
-Pois! - Respondiam entre eles.
-Não, não. Voa, sim. Só não a testei ainda.
-Bom. Quem quer ser o pró…
-Levo-vos ao Pólo Norte e ao Pólo Sul!
-Muito obrigado, menino André. O próximo, por favor.
Nessa manhã fiquei desiludido. Apenas não a tinha experimentado porque só o tinha acabado essa manhã e não tive tempo…
Ao chegar a casa, quis realizar o meu sonho. Quis dar a volta ao mundo, literalmente, em apenas 2h. Podia fazê-lo em menos tempo, mas queira aproveitar a viagem.
-Até logo, mãe!
-Aonde vais?
-Ao Pólo Norte. Depois ao Pólo Sul. Queres um pinguim ou um urso polar?
-Pólo Norte? Pólo Sul? Do que estás a falar, André? André!
Não respondi, porque já estava no ar. A Nave voava mesmo e, tal como pedi, tinha um motor a gás que não prejudicava o ambiente e ainda por cima, deixa um rastro lindo e multicolorido no ar. O rastro não era permanente, infelizmente.
-Pinguins!
Imaginei como ficariam todos surpreendidos, na escola.
Parei na Antártida. Agarrei num pinguim e disse aos outros:
-Vou levá-los só por um bocado, está bem? Já o devolvo.
E ouvi, do fundo:
-Está bem. Mas não deixes que ninguém lhe faça mal.
Não conseguia ver quem era, mas agradeci:
-Sim, senhor…senhora… Obrigado. Já volto!
Voltei para a nave e segui para o Pólo Norte. De lá agarrei num urso polar bebé, sempre com a autorização dos progenitores.
Já em casa, mostrei à minha mãe, que ficou espantada.
Os meus colegas e a setôra pediram imensas desculpas por não terem acreditado em mim. Ainda por cima, gostaram imenso.
-Bem… Agora só me resta devolvê-los.
No fim da aula…
-Podem sair, meninos – diz a professora. – André, por recompensa, terás um aumento na nota de Físico-Químicas e ainda posso te aumentar a de Língua Portuguesa…sabes como, não sabes?
-Sei, sim. Obrigado, setôra. Adeus e até amanhã.
Já de regresso ao Pólo Sul reparei que o rastro da minha nave ficou paralisado no ar. Tornou-se uma coisa muito bonita, mas achei estranho.
-Ah, sim. O senhor da loja que me vendeu o motor avisou-me que o rastro podia ficar estático no ar em ambientes muito muito frios.
No pólo norte, o cenário era idêntico e alargava-se por outros lugares muito muito frios.
Já com os animais devolvidos aos seus pais, voltei a casa.
Bateram à porta imensos jornalistas que descobriram os rastros da minha nave paralisados no céu. Estavam todos em frente à minha porta. Não paravam de fazer perguntas.
-Senhor André, como baptizou aquela luz magnífica?
-Senhor André, por favor…
-Senhor André!
-Baptizei-o de…de…Aurora Boreal.
Desde desse dia, fiquei muito conhecido nos jornais, na televisão, nos laboratórios de ciência e astronomia, na escola…no mundo!
‘‘ (…)
Hoje, ‘‘Senhor André Boreal’’.
Amanhã, ‘‘Senhor Doutor André Boreal’’. Físico, matemático e inventor.
Primeiro adolescente do Mundo a criar uma Nave Espacial! E ainda criei a Aurora Boreal...
Permanecerei nas páginas dos jornais e nas notícias dos telejornais. Terei uma página e muitas imagens no Google, um MySpace, um Blog, imensos FanBlog’s e, principalmente, uma página na Wikipédia.
(…) ’’
Com esta composição, intitulada ‘‘Como A Vida Dá Voltas’’, consegui um belo aumento à Língua Portuguesa.
- A vida dá mesmo imensas voltas...! Ainda ontem, pensavam que estava doido. Agora sou mais importante que Einstein, e, como ele, terei um símbolo químico em meu nome. Mais importante que Arquimedes, ou mesmo Nuno Crato!
FIM